A disfagia, dificuldade de engolir, pode gerar consequências graves e até levar à morte. Isso acontece quando, no momento de engolir, seja um alimento, bebida, medicamento ou a própria saliva, a substância acaba indo pelo caminho errado e obstruindo as vias aéreas, causando um engasgo. Trata-se de um quadro mais frequente em bebês e idosos, mas que pode acometer pessoas de todas as idades.
A preocupação em relação ao assunto levou à Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e de Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) a divulgar uma nova nota técnica. Segundo a entidade, uma em cada quatro crianças pode ser afetada pela disfagia. Entre as crianças com comprometimentos de saúde, como transtornos neurológicos, malformações craniofaciais ou doenças respiratórias, essa incidência é ainda maior e pode chegar a oito em cada dez.
O documento destaca ainda, que a sufocação, ou seja, a obstrução das vias aéreas, é responsável por 53% dos acidentes infantis no mundo e, no Brasil, está entre as dez principais causas de morte pediátrica. Segundo a ABORL-CCF, isso acontece porque as crianças ainda estão desenvolvendo a habilidade de mastigação e têm o costume de colocar objetos na boca. “Por isso, é importante que, durante a alimentação, por exemplo, sempre haja o acompanhamento de um adulto”, diz a nota.
Nos idosos, a disfagia costuma ser motivada pela perda de habilidades ou compensação inadequada decorrente do envelhecimento, de acidentes ou comorbidades, como doenças neurodegenerativas ou respiratórias. Segundo a nota, 22% dos adultos com mais de 50 anos têm dificuldades de engolir.
Apesar de serem menos afetados, os adolescentes e jovens adultos também podem apresentar problemas de deglutição. De acordo com a associação, isso geralmente é causado por condições que tenham impactado a habilidade de deglutição, como traumas na região ou doenças infecciosas, inflamatórias ou neuromusculares.
O que fazer em caso de engasgo?
Primeiro, é importante saber o que não deve ser feito: colocar a mão dentro da boca da pessoa que está engasgando. “Esse gesto pode acabar empurrando o objeto ou alimento ainda mais em direção ao pulmão”, alerta a otorrinolaringologista Eliézia Helena de Lima Alvarenga, da ABORL-CCF.
A atitude mais indicada no caso de engasgo de pessoas maiores de um ano é a realização da manobra de Heimlich. Essa, de acordo com a ABORL-CCF, consiste em abraçar a pessoa por trás e fazer compressões com uma mão aberta sobre outra com o punho fechado na “boca” do estômago, ou seja, na região entre o umbigo e o começo das costelas. É importante que esse movimento seja feito para trás e para cima, como se fosse para levantar a pessoa. A manobra deve ser feita cinco vezes seguidas, com repetições, se necessário.
Em pessoas obesas ou grávidas que estão no último trimestre, as compressões devem ser feitas no meio do peito, e não no abdome.
Vale destacar também que se a pessoa estiver inconsciente, essa manobra não deve ser realizada. Nesse caso, o indicado é realizar a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) enquanto o resgate não chega, segundo a nota.
Para bebês com menos de um ano, são necessários cuidados diferentes. Primeiro, o adulto deve apoiar a criança no antebraço ou na coxa, com a cabeça voltada para baixo e o queixo apoiado. Em seguida, deve usar os dedos em forma de “gancho” para abrir a boca da criança. Então, o recomendado é dar 5 batidas com a mão nas costas do bebê. Depois, o bebê deve ser virado para cima e devem ser realizadas compressões com dois dedos na região entre os mamílos. Quando o corpo estranho aparecer na boca, o adulto deve retirá-lo delicadamente da região.
Importante destacar que enquanto esses procedimento estão sendo realizados, os profissionais de emergência devem ser acionados, de acordo com a ABORL-CCF.
Ainda, a entidade médica frisa que todos devem conhecer esses procedimento, em especial, quem cuida de idosos ou crianças.
Como prevenir engasgos?
A otorrinolaringologista pontua também alguns hábitos que podem prevenir a ocorrência de engasgos em todas as idades. São eles:
- Quando for comer, focar na comida. Distrações, como conversas, podem facilitar a ocorrência de engasgos durante as refeições;
- Ingerir alimentos adequados para suas condições. Pessoas que têm dificuldade de mastigar, por exemplo, devem evitar alimentos sólidos e optar pelos pastosos;
- Não deitar logo depois de comer. Esse hábito pode fazer com que a comida que foi para o estômago faça o caminho de volta, possivelmente, causando engasgos. O indicado é esperar de 40 a 50 minutos após as refeições para deitar.
- Manter a higiene bucal em dia. Isso evita o acúmulo de bactérias na região da boca que podem causar infecções e piorar o cenário no caso de engasgo de saliva.
Publicada originalmente no Estadão